segunda-feira, 31 de março de 2008

“O que ocorrer com a terra, recairá sobre os filhos da terra. Há uma ligação em tudo.”


Carta do Cacique americano ao Presidente dos Estados Unidos da América
Em 1854, o Governo dos Estados Unidos tentava convencer o chefe indígena Seatle a vender suas terras. Como resposta, o chefe enviou uma carta ao Presidente Franklin Pierce, que se tornou um documento institucional importante e que merece uma reflexão atenta pois é uma lição que deve ser cultivada por esta e pelas futuras gerações.Decorridos quase dois séculos da carta do cacique indígena Seatle ao Presidente do Estados Unidos, seus ensinamentos permanecem atuais e proféticos, para todos aqueles que sabem enxergar no fundo do conteúdo de sua mensagem.A carta do cacique Seatle é uma lição inesgotável de amor à natureza e à vida, que permanece na consciência de milhões de pessoas em todas as partes do mundo. É o hino de todos aqueles que amam a natureza e tudo o que nela vive. A cada leitura, renovamos os ensinamentos que ali estão. Serve para ler e reler e passar adiante para que todos a conheçam.
Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa idéia nos parece estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los?Cada pedaço desta terra é sagrado para meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência de meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho.
Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia, são nossos irmãos. Os picos rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o calor do corpo do potro, e o homem - todos pertencem à mesma família.
Portanto, quando o Grande Chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, pede muito de nós.
O Grande Chefe diz que nos reservará um lugar onde possamos viver satisfeitos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, nós vamos considerar sua oferta de comprar nossa terra. Mas isso não será fácil. Esta terra é sagrada para nós.
Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada, e devem ensinar as suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz de meus ancestrais.
Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos e seus também. E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão.
Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção da terra, para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem à noite e extrai da terra aquilo de que necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e quando ele a conquista, prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados e não se incomoda. Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa. A sepultura de seu pai e os direitos de seus filhos são esquecidos. Trata sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites coloridos. Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto.
Eu não sei, nossos costumes são diferentes dos seus. A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e não compreenda.
Não há um lugar quieto nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar de folhas na primavera ou o bater das asas de um inseto. Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não compreendo. O ruído parece somente insultar os ouvidos.
E o que resta da vida se um homem não pode ouvir o choro solitário de uma ave ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa, à noite? Eu sou um homem vermelho e não compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros.
O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro - o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. Parece que o homem branco não sente o ar que respira. Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao mau cheiro. Mas se vendermos nossa terra ao homem branco, ele deve lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seu espírito com toda a vida que mantém. O vento que deu a nosso avô seu primeiro inspirar também recebe seu último suspiro. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la intacta e sagrada, como um lugar onde até mesmo o homem branco possa ir saborear o vento açucarado pelas flores dos prados.
Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos.
Sou um selvagem e não compreendo qualquer outra forma de agir.
Vi um milhar de búfalos apodrecendo na planície, abandonados pelo homem branco que os alvejou de um trem ao passar. Eu sou um selvagem e não compreendo como é que o fumegante cavalo de ferro pode ser mais importante que o búfalo, que sacrificamos somente para permanecer vivos.
O que é o homem sem os animais? Se todos os animais se fossem o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais, breve acontece com o homem. Há uma ligação em tudo.
Vocês devem ensinar às suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem as suas crianças o que ensinamos as nossas que a terra é nossa mãe. Tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos.
Isto sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra. Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo.
O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo.
Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala com ele de amigo para amigo, não pode estar isento do destino comum. É possível que sejamos irmãos, apesar de tudo. Veremos. De uma coisa estamos certos - e o homem branco poderá vir a descobrir um dia: nosso Deus é o mesmo Deus. Vocês podem pensar que O possuem, como desejam possuir nossa terra; mas não é possível. Ele é o Deus do homem, e Sua compaixão é igual para o homem vermelho e para o homem branco. A terra lhe é preciosa, e ferí-la é desprezar seu criador. Os brancos também passarão; talvez mais cedo que todas as outras tribos. Contaminem suas camas, e uma noite serão sufocados pelos próprios dejetos.
Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente, iluminados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes deu o domínio sobre a terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam todos domados, os recantos secretos da floresta densa impregnadas do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruída por fios que falam.
Onde está o arvoredo? Desapareceu.
Onde está a águia? Desapareceu.
É o final da vida e o início da sobrevivência.

II Seminário de Mudanças Climáticas - PUC-Rio

Na próxima semana, dias 2 e 3 de Abril (quarta e quinta), a PUC-Rio e o NIMA estarão realizando o II Seminário de Mudanças Climáticas no Auditório Padre Anchieta. As palestras levantarão a importante temática do aquecimento global e suas implicações na Política e na Economia, no âmbito Brasil e a cidade do Rio de Janeiro. Também suscitará as premissas da Agenda Pós-Quioto e o desafio da Universidade Sustentável.

Para conhecer a programação acesse:
http://www.nima.puc-rio.br/informe/noticias/10030801.html
As incrições são gratuitas e feitas no ingresso do evento.

Professores da PUC-Rio e especialistas participarão da apresentação dos palestras. “O ano passado marcou o auge das discussões sobre o clima. Agora, em 2008, será o ano das ações para revertermos essa situação que o ser humano criou”, explica Luiz Felipe Guanaes Rego, diretor do NIMA.
Também se faz importante que a ocasião inaugure a nova era da universidade, onde o encontro de práticas sustentaveis dentro do campus seja objeto de pesquisas academicas e experimentações dos proprios alunos, profissionais para o futuro.
Dedicado a esta iniciativa, no segundo dia de Seminário, sob coordenação do vice-reitor da PUC, Pe. Josafá Carlos de Siqueira, serão debatidos os temas referentes à "Universidade Sustentável", e serão apresentados os Grupos de Trabalho de Sustentabilidade.
Os grupos organizam suas pesquisas e atividades tendo em vista a eficácia ambiental do campus e procuram agregar outros cursos e disciplinas dos diversos departamentos de ensino no desenvolvimento de outras iniciativas.

Os Grupos de Trabalho apresentam a seguinte disposição (e se intercomunicam diretamente):
- Água e Energia - coordenado pelo Prof. Tácio Mauro Pereira de Campos - ENG - tacio@civ.puc-rio.br e José T. Araruna Jr. - ENG - araruna@puc-rio.br
- Materiais e Resíduos - coord. pela Prof. Maria Fernanda R. C. Lemos - ARQ - mariafernandalemos@puc-rio.br e Marcos Cohen – ADM - mcohen@iag.puc-rio
- Biodiversidade - coord. pelo prof. Luiz Felipe Guanaes Rego – NIMA – regoluiz@puc-rio.br
- Educação Ambiental - coord. pela prof. Léa Tiriba – EDU – leatiriba@domain.com.br

Os Grupos de Trabalhos promovem reuniões abertas todas as Quintas-feiras, às 13:30h no NIMA. Não haverá reunião na semana do Seminário.

A Conferência da Terra - Fórum Internacional do Meio Ambiente

- Acontece no Nordeste -
A Assembléia das Nações Unidas elegeu 2008, como o Ano Internacional do Planeta Terra, com a finalidade de promover e incentivar o desenvolvimento de programas sustentáveis e manutenção da vida. Visando ampliar as discussões sobre os temas globais e as implicações locais, a Universidade Federal da Paraíba - UFPB, está realizando o Fórum Internacional do Meio Ambiente - A Conferência da Terra, na cidade de João Pessoa - PB, Brasil, no período de 21 a 24 de maio de 2008. A Conferência da Terra reunirá cientistas renomados, cujos trabalhos apontam as alternativas para o futuro comum com melhor qualidade ambiental. O evento tem o apoio de outras instituições de pesquisa, como a Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, Universidade Federal do Ceará - UFC, Universidade Federal da Bahia - UFBA, e Universidade Estadual de São Paulo - UNESP. O público esperado é de 1.000 participantes, entre pesquisadores, professores e estudantes de graduação e de pós-graduação.
O tema geral da Conferência da Terra - as questões ambientais globais e soluções locais - irá proporcionar melhor compreensão dos fenômenos naturais, antrópicos e sociais, sugerindo alternativas limpas para reduzir seus efeitos nas sociedades humanas e ecossistemas naturais. As atividades programadas incluem conferências, palestras, debates, grupos de trabalhos, relatos de experiências científicas e mini-cursos. O aquecimento do sistema climático é inequívoco e evidenciado através da constatação das mudanças de temperatura na atmosfera e massas oceânicas, derretimento das calotas polares, desaparecimento das geleiras no alto das montanhas e aumento do nível do mar. Os ambientes urbanos tornam-se insuportáveis para a vida humana, sobretudo em função do modelo econômico consumista. São agravantes para o ambiente urbano, os congestionamentos de veículos, a poluição do ar, excesso de edifícios, expansão das áreas periféricas e o nível elevado de ruídos.
No mundo atual está havendo incremento na mudança dos ventos e das correntes marítimas, salinização das águas continentais, chuvas abundantes e furacões em determinadas áreas, enquanto noutras observa-se o agravamento das secas e da desertificação. Extensas áreas agrícolas estão sendo comprometidas pelo mau uso do solo, desperdício de água e uso indiscriminado de defensivos químicos. Com o objetivo de mudar a conduta das sociedades humanas e os padrões de consumo, cientistas de vários países apontam soluções, permitindo às nações criar as condições necessárias para intervenções adequadas, impondo limites à emissões dos países industrializados, incentivos à limitação no países em desenvolvimento e apoio à geração de energia limpa.
As mais respeitadas instituições científicas asseguram que estão acontecendo alterações ambientais no Planeta com graves conseqüências para a manutenção da vida. Programas de monitoramento e controle ambiental têm revertido o processo de degradação de alguns ecossistemas. O somatório e ampliação dessas medidas, a partir de expressiva mobilização social e esforço conjunto das nações, poderá impedir o esgotamento dos recursos naturais, essenciais à permanência da vida na Terra.
O Brasil, por sua diversidade natural e socioeconômica, constitui um cenário ideal para a reflexão das questões ambientais globais e apresentação das alternativas na solução dos problemas locais. No Estado da Paraíba os efeitos das alterações ambientais globais são evidenciadas, numa realidade constatada através dos elevados índices de acompanhamentos da natureza (ou naturais), desertificação e o avanço regular das águas oceânicas sobre a zona costeira.

A primeira cidade sustentável do mundo

O governo de Adu Dhabi anunciou a primeira cidade sustentável do mundo. Com capacidade para 50 mil habitantes, 1.500 estabelecimentos comerciais, e construída em uma área de 6 quilômetros quadrados, a cidade de Masdar será livre de emissões de carbono e desperdício. A cidade terá transporte livre de carros de forma que nenhum habitante precisará andar mais do que 200 metros. Os primeiros moradores poderão se mudar para Masdar em 2009. O projeto conta com a participação de uma empresa de tecnologia em energia verde, a Masdar Initiatives, e de arquitetos britânicos da Foster and Partners. (BBC Brasil)

terça-feira, 25 de março de 2008

Esboços de uma sociedade planetária sustentável

Por Fritjof Capra, físico e teórico de sistemas e Ernest Callenbach, ambientalista

(...) Como seria, verdadeiramente, uma sociedade sustentável? Ainda não há modelos detalhados, mas na última década surgiram critérios básicos que nos permitem desenhar a forma emergente das sociedades sustentáveis. A sustentabilidade global requer uma drástica diminuição do crescimento mundial. As sociedades sustentáveis terão populações estáveis, como as que têm hoje em dia 13 países europeus e o Japão. A população mundial deverá se estabilizar no máximo em oito bilhões de pessoas. As economias sustentáveis não serão movidas por combustíveis fósseis, mas sim por energia solar e suas muitas formas diretas e indiretas: luz solar para aquecimento e eletricidade fotovoltaica, energia eólica, hídrica e assim por diante. (...)
Nas indústrias sustentáveis, a reciclagem será a principal fonte de matéria prima. O design de produtos se concentrará na durabilidade e no uso reiterado, em vez da vida curta e descartável dos produtos. O desejável será uma mentalidade baseada na ética da reciclagem. As empresas de reciclagem ocuparão o lugar das atuais companhias de limpeza urbana e disposição final do lixo, reduzindo a quantidade de resíduos em pelo menos em dois terços. Uma sociedade sustentável necessitará de uma base biológica restaurada e estabilizada. O uso da terra seguirá os princípios básicos da estabilidade biológica: a retenção de nutrientes, o equilíbrio de carbono, a proteção do solo, a conservação da água e a preservação da diversidade de espécies. É provável que as áreas rurais tenham maior diversidade do que atualmente com o manejo equilibrado da terra, em que haverá rotatividade de plantações e de cultivo de espécies. As empresas que produzirem alimentos e energia serão mais populares. (...)
A característica decisiva de uma economia sustentável será a rejeição da cega busca de crescimento. O produto interno bruto será reconhecido como um indicador falido. No lugar do PIB, as mudanças econômicas e sociais, tanto quanto as tecnológicas, serão medidas por sua contribuição à sustentabilidade. Em um mundo sustentável, os orçamentos militares serão uma pequena fração do que são hoje. Em vez de manter caras e poluidoras instituições de defesa, os governos poderão investir em uma fortalecida Organização das Nações Unidas para a manutenção da paz.
Fonte: http://www.redeambiente.org.br/_noticias/view1.asp?id=304

Relatório do Índice de Desenvolvimento Humano da ONU traz firme advertência contra a mudança climática

A menos que a comunidade internacional decida cortar as emissões de carbono pela metade na próxima geração, as mudanças no clima serão muito provavelmente responsáveis por enormes prejuízos econômicos e humanos, além de catástrofes ecológicas irreversíveis, afirmou um relatório da ONU na terça-feira.
O Relatório de Desenvolvimento Humano da Organização das Nações Unidas (ONU) é uma das advertências mais contundentes já feitas sobre o impacto das mudanças climáticas no padrão de vida das pessoas, e serve de apelo para providências coletivas urgentes."Podemos estar prestes a observar um retrocesso no desenvolvimento humano pela primeira vez em 30 anos", disse à Reuters Kevin Watkins, principal autor do documento.
O relatório, apresentado em Brasília na terça-feira (27/11), estabelece metas e um guia de ação para reduzir as emissões de carbono, e serve de preparativo para a cúpula sobre o clima que a ONU realiza no mês que vem em Bali, na Indonésia.
As emissões de dióxido de carbono e de outros gases na atmosfera colaboram para que o calor fique aprisionado perto da superfície, como numa estufa, o que leva ao aquecimento global."
A mensagem para Bali é que o mundo não pode esperar, que tem menos de uma década para mudar de rumo", disse Watkins, que também é pesquisador da Universidade de Oxford.
O surgimento de mudanças climáticas perigosas para o ser humano será inevitável se nos próximos 15 anos as emissões seguirem as tendências dos últimos 15 anos, afirmou o documento.
Para evitar um impacto catastrófico, a elevação na temperatura média global tem de ficar limitada a 2 graus Celsius. Mas as emissões de carbono, provenientes de carros, usinas de energia e do desmatamento no Brasil, Indonésia e em outros lugares, hoje estão num nível que é o dobro do necessário para cumprir a meta, segundo os autores da ONU.
A mudança no clima pode condenar milhões de pessoas à pobreza, disse o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Desastres provocados pelo clima afetaram 262 milhões de pessoas entre 2000 e 2004, sendo que 98 por cento delas estavam no mundo em desenvolvimento.
E, segundo o texto, o impacto desses desastres na vida dos mais pobres não é momentâneo, mas sim se prolonga por toda uma geração, o que cria um ciclo vicioso de reprodução da miséria.
Uma elevação da temperatura média do planeta entre 3 e 4 graus Celsius desalojaria 340 milhões de pessoas devido à ocorrência de inundações, de secas que reduziriam a produção agrícola e do recuo dos glaciares, que diminuiria o fornecimento de água para até 1,8 bilhão de pessoas, afirmou o levantamento.
No Quênia, crianças de menos de 5 anos têm 50 por cento mais risco de ser desnutridas se nascem num ano de seca, o que afeta sua saúde e sua produtividade pelo resto da vida.
Os países possuem recursos técnicos e financeiros para agir, mas falta vontade política, afirmou o relatório. O documento ressaltou os Estados Unidos e a Austrália, as duas únicas potências econômicas ocidentais que não assinaram o Protocolo de Kyoto, acordo do qual participam 172 países na tentativa de cortar as emissões de carbono, e que expira em 2012.
A Etiópia emite 0,1 tonelada de dióxido de carbono per capita, enquanto o Canadá, por exemplo, emite 20 toneladas. As emissões per capita dos Estados Unidos são mais de 15 vezes maiores que as da Índia.
PLANO DE AÇÃO
O mundo precisa investir 1,6 por cento da produção econômica global por ano, até 2030, para estabilizar o estoque de carbono e atingir a meta de não elevar a temperatura mais que 2 graus Celsius. Os países ricos, os maiores emissores de carbono, precisam assumir a liderança e cortar pelo menos 30 por cento até 2020 e 80 por cento até 2050. Os países em desenvolvimento têm de cortar as emissões em 20 por cento até 2050, disse o Pnud."Quando os moradores de uma cidade norte-americana ligam o ar-condicionado ou os europeus usam seus carros, suas atitudes têm consequências (...) que os ligam a comunidades rurais de Bangladesh, a agricultores da Etiópia e a favelados do Haiti", disse o relatório.
O Pnud recomendou uma série de medidas, entre elas a melhora na eficiência em termos do consumo de energia de aparelhos e carros, a imposição de limites às emissões e a possibilidade de negociar permissões de emissão.
O órgão afirmou que a tecnologia experimental para armazenar de forma subterrânea as emissões de carbono é promissora para a indústria do carvão, e sugeriu a transferência de tecnologia para países em desenvolvimento que dependem do carvão, como a China.
Um fundo internacional teria que investir entre 25 bilhões e 50 bilhões de dólares ao ano em países em desenvolvimento para aumentar o uso de fontes de energia de baixa emissão.
Questionado se o relatório é alarmista, Watkins disse que ele se baseia na ciência e em evidências: "Desafio qualquer pessoa a falar com vítimas de secas, como fizemos, e pôr em dúvida nossas conclusões sobre o impacto de longo prazo dos desastres climáticos."
REUTERS MPP
Veja também:
Fonte: Estadão Online, 27/11/2007
por Raymond Colitt, da Reuters