segunda-feira, 26 de maio de 2008

Os índios e os engenheiros.


A questão indígena brasileira é de delicada interpretação. Da mesma forma, a questão das cotas para negros também o é. E entre estas duas temáticas, uma linha histórica amarra alguns anos da formação da sociedade brasileira.

Como bem entendendemos, na nossa lingua, nos nossos modos e no que faz de nós "povo", temos nossas origens fundadas num verdadeiro "cozido" de culturas a muito fortificadas. Nós, brasileiros, não somos cultura "clássica", de raízes ou tradições. Nós, como crianças, estamos ainda confusos procurando "identidade".

Somos burocraticamente portugueses, e junto deles, cheios de razão e com pouco fazer por onde. O que aliado ao satisfeito ou "sustentável" índio e ao "insatisfeito" e extremamente forte negro, temos essa pureza dura, essa conexão astral preocupada que anciosamente precisa se impor e dizer "eu já sou grande, eu posso fazer sozinho". Quando mal se sabe, o que se encanta é exatamente a idade... a idade do Brasil, que como numa criança de 4 anos, é admirável. A pirraça, quando não se é os pais, é tão bonitinha.

Pois bem. Na cidade, no campo, praias e cerrados. Florestas e ambientes urbanos abrigam milhares e diversas pessoas, de historias de vida, de familia, de tradições... que automaticamente se comunicam e sistematizam um socializar-se. É a diversidade, a abertura a novidade, à alternativa... ao passo que a necessidade de se sustentar, forte, satisfeito...

E de longe observo os índios. Estão em suas terras, cada vez menores. Rodeados (imagine o mundo que concebemos ao redor do "seu" chão) pelo movimento incessante de informação, disputa, transformação... Sinta o que seria. Sinta-se no alto de uma montanha e assista a cidade de longe... E faça parte.

O índio é parte, tem funções objetivas que o traduzem para o meio. É cacique, é guerreiro, é xamã, é criança, é mulher e tantos outros encaixes e outras tantas características sutis. E se a sua terra se reduz, se sua aldeia fica apertada... a cidade sobe a montanha, questiona os cargos, desestrutura a política, quebra a ordem e enfraquece o povo ... toma o povo. Toma a terra, as pessoas, a historia... convence ou simplesmente mata. O povo, já sem chão... se não pela luta, sofre.

E algumas imagens tem sido estas. Índios enfrentando com utensílios "tradicionais" engenheiros da cidade. Não há comunicação, não há acordo. Há apenas a cidade subindo a montanha e o povo lá de cima reagindo como pode, metendo os pés pelas mãos graças à uma total inabilidade de diálogo, afirmação. De respeito. Assim são os índios - legítimos, como os sem-terra, os imigrantes ilegais, os camelôs ou os maconheiros. Momentos em que a lei não é poder, a lei é a arrogância paleativa que se perde do vocabulário da negligencia, de uma incapacidade em lidar de homem para homem. A Lei colocada na boca errada é máscara de atitudes não apenas homicidas, mas anti-culturais.

Enquanto não desenvolvermos nossas caracteristicas locais, nossos traçados culturais, não haverá amadurecimento social. Sustentabilidade, o nome da moda, quer dizer apenas SABER CUIDAR.

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