domingo, 27 de abril de 2008

A rede de confiança

Por Cristine de Carvalho

Como mostra Saraiva (2002), na prática, a rede é um conceito largamente operacional que permite construir novas realidades e modificar sistemas já existentes. No entanto, nas várias esferas da produção, os principais desafios da inter-relação na rede de trabalho são: a promoção da confiança interpessoal, do crédito e da ética; os entraves da coordenação dada a diversidade de pessoas/organizações fora das fronteiras tradicionais; a negociação com a ausência de hierarquia, pelos acordos “ganha-ganha”; a necessidade de capacitação digital, para a conectividade e como fonte de informação; a construção de relações estáveis e de produtividade, mesmo com tamanha diversidade; e a necessidade de controle e do clima amistoso de liberdade.
Francis Fukuyama discute em Confiança, que as relações sociais influenciam o desempenho econômico, tanto de uma organização como de uma nação. Indicadores de bem-estar e de capacidade de competir, por exemplo, mostram as condições e a abrangência do nível de confiança entre os agentes da sociedade civil – empresas, sindicatos, igrejas, clubes, associações comunitárias, ONG´s e mídia, entre outros.
Para Fukuyama (2002) a economia está permeada pela cultura e depende dos valores morais e da confiança social. Assim, este autor e Putnam enfatizam o papel da confiança para a prosperidade de uma nação, e, para ambos, confiança é a base para o capital social. “Confiança é a expectativa de reciprocidade”, do corpus mínimo, de coesão (Carneiro, 1996), “que pessoas de uma comunidade, baseadas em normas partilhadas, têm acerca do comportamento dos outros. Quem sente e sabe que pode confiar, recebe mais colaboração e aproveita melhor as oportunidades que aparecem” (D´Araujo, 2003). Ou ainda, segundo Marteleto (2004), o nível de confiança (e expectativa) entre os indivíduos da rede está relacionado com o capital social cognitivo e influencia a ação coletiva do grupo.
Concluindo, Fukuyama apresenta o primeiro grande ensaio de integração das visões econômicas e socioculturais a partir da realidade dos anos 90. O autor cria uma escala de sociabilidade para avaliar o chamado “capital social”, o potencial que os indivíduos de uma determinada cultura têm para trabalhar juntas visando objetivos comuns em grupos e organizações. Esta sociabilidade, por sua vez, decorre do grau em que as comunidades compartilham normas e valores, mostrando-se dispostas a subordinar o individual e o coletivo. Desses valores compartilhados nasce a confiança, tema central de seu livro.
O que se constata na prática, como por exemplo, nos estudos da RedeSist[1] sobre os arranjos locais, é a necessidade de levar em conta as características culturais, econômicas e políticas em que todos os atores sociais aproveitam oportunidades surgidas da combinação da posição deles em redes sociais e da estrutura dessas redes, podendo – ou não – resultar no que Schmitz chama de “eficiência coletiva” (Maciel, 2002).
[1] Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais: www.ie.ufrj.br/redesist

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