Por Cristine de Carvalho para a Agencia Comunicarte de Responsabilidade Social
“No final do século XX, vários acontecimentos de importância histórica transformaram o cenário social da vida humana.”. Assim inicia o “Prólogo: a Rede e o Ser”, do livro “Sociedade em Rede, de Manuel Castells. Segundo o autor, uma revolução tecnológica concentrada nas tecnologias da informação começou a remodelar a base material da sociedade em ritmo acelerado. Economias do mundo todo passaram a manter interdependência global, apresentando uma nova forma de relação entre a economia, o Estado e a sociedade em um sistema de geometria variável (Castells, 2005).
Desta forma, o caráter fluido da informação, a base da geração do conhecimento e da ação social, teve sua relevância econômica e política investigada em várias áreas do conhecimento – desde a ciência da informação, a sociologia, a economia, até a ciência política.
A rede na economia remete à idéia de “comportamento” corporativo entre indivíduos, empresas e atores políticos a fim de receber “vantagens em rede”. Estes benefícios pertencem à sociedade e são realizadas por parceiros independentes que agem de forma autônoma.
No mercado empresarial, o formato em rede caracteriza a relação entre as várias fases da cadeia produtiva (Marteleto, 2004). Conectados eletronicamente, estes empreendedores se unem em redes fluidas e temporárias para produzir e vender mercadorias e serviços. Com a conclusão do seu trabalho, a rede se dissolve e os seus membros ficam novamente independentes, circulando na economia à cata de novas encomendas.
Do ponto de vista político, Börzel (1998) elucida a conclusão de estudiosos do tema, onde rede é um “conjunto de relações relativamente estáveis, de natureza não-hierárquica e interdependente, que vinculam uma variedade de atores que compartilham interesses comuns com relação a uma política e que trocam recursos para satisfazer esses interesses compartilhados, reconhecendo que a cooperação é a melhor maneira de atingir objetivos comuns.”.
Na concepção científico-tecnológica, a última década trouxe para a cadeia produtiva o conceito de rede. Com a larga difusão dos computadores pessoais no mercado e o impulso à utilização da telemática (Internet) como veículo de informação, grandes mudanças passaram a caracterizar a comunicação entre os indivíduos e os meios de se trabalhar. Também podendo ser chamada de rede invisível pela desmaterialização da produção, muitos processos começavam e terminavam via computadores e internet.
Para aqueles que puderam ser incluídos na nova rede por motivos econômicos e pessoais (de renda e de adaptação, por exemplo), os benefícios são a velocidade e a facilidade na interação entre indivíduos distantes tanto fisicamente quanto culturalmente, o que leva a maiores oportunidades de conhecimento – ainda que de maneira superficiais. Além destes, o uso da informática trouxe dispositivos ao crescimento de iniciativas individuais e de micro empresas – onde por exemplo todo um mercado virtual já existe.
No entanto, estes benefícios não são acessíveis a todos aqueles que gostariam de tê-lo. A maioria dos produtos de consumo condensa conhecimento científico e tecnológico e o acesso a eles é condição de integração na vida civilizada, como afirma Bernardo Sorj (2003). Tanto em termos de qualidade de vida como em chances de inserção na sociedade em geral e no mercado de trabalho em particular.
Como afirmou o Dr. Jorge Werthein (2003), ainda quando era diretor da UNESCO no Brasil, e atual diretor-executivo da RITLA[1], “o crescimento das redes e aplicações das tecnologias de informação e comunicação não garante, por si mesmo, os fundamentos das sociedades o conhecimento. Para construí-la é necessária a escolha política sobre quais são as metas desejáveis, principalmente para que se possa ampliar o acesso eqüitativo à educação e ao conhecimento. Essa é uma tarefa de todos e se insere no processo coletivo de superação da exclusão digital, uma das dimensões da desigualdade social”[2].
[1] Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana
[2] Retirado do Prefácio de “Brasil@povo.com”.
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